Sou pé vermelho !
Nascido e criado no noRRRte do Paraná, sou daqueles que, um dia moleque, corria descalço pelas ruas de chão batido e voltava para casa com os calcanhares rachados e encardidos do vermelho da terra.
Que nos dias de chuva atolava os pés na lama escura e, por mais raspada que fossem, ficavam com os kichutes cobertos de grossa camada marrom.
É a sina que carrega quem vive a dificuldade e a alegria da Terra Roxa.
Pois foi com a inquietude de quem espera encontrar engarrafado, descansando na gôndola de um supermercado, as lembranças de um tempo erodido que levei para casa esse líquido que tem esse nome grafado.
Pois foi em Pirassununga, e não descobri porque leva esse nome, que nasceu essa cachaça. Simples e reconfortante. Não exuberante, mas decente.
A cachaça Terra Roxa é descansada em tonéis de carvalho. Não carrega aquele sabor marcante da madeira que alguns costumam imprimir para oferecer um toque sofisticado, mas o suficiente para lhe dar suavidade e sabor.
O aroma alcólico e sabor levemente ácido lembram o que de melhor uma cachaça tradicional tem a oferecer sem agredir o paladar.
Possui uma coloração amarelo claro e boa viscosidade.
Ao degustar, me flagrei lembrando daqueles botecos de tábua na beira das estradas de chão. Meio tombados pelo tempo e pela má conservação.
Nenhum deles teria algo tão bom a oferecer, mas decerto essa bebida, até no nome, faz uma justa homenagem àqueles que deram seu suor para domar essa terra fértil e buscaram no trago amargo de um alambique, limpar um pouco da poeira vermelha acumulada na garganta de seus corpos cansados da lida.
15 dezembro, 2017 at 22:58
É terra Roxa Pr
15 dezembro, 2017 at 23:12
Londrina. Mas pé vermelho também.